sexta-feira, 18 de abril de 2008

O CORVO.

O Corvo ( Edgar Allan Poe)

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.
"Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado
,Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.
"Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!
"Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!
"Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste!
Tira-te de meus umbrais!Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!
"Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!

Tradução Fernando Pessoa

domingo, 6 de abril de 2008

45.

45. (Fábio Terra)

O boi se foi manco,
Atrás da água
No coxo do rebanho
Até o barranco.

45 vezes ele mugiu
45 vezes os dias falaram
45 vezes o vento zuniu
45 vezes eu andei com as minhas sandálias,
Atrás do som perdido.

45 invertido, se dá 54
Onde mora meu pensamento repetido.

20 anos se passaram
2,0 segundos se passaram
200 milésimos andaram


Uma lâmpada foi colocada a 45m da entrada
E a 45 minutos da ENSEADA....

sexta-feira, 4 de abril de 2008

O BARCO MÁGICO.

O Barco Mágico. (Fábio Terra)

Hora de navegar
No barco mágico
Que leva o imagético
Poder da viagem.

Estrelas brilham cada vez mais sibilantes
Dentro do meu interior cognitivo
Ativo por raios high mega powers, inventivos
Traçados através do nosso corpo, que em breve
Estará nu.

Nau vazia de pensamentos,
Viaja através dos meus sentimentos
Pictóricos com a silhueta do teu corpo.

Hoje hei de permanecer junto a esse rio
Onde o espelho d’agua refletia o azul do céu
E posso então me banhar com teu puro coração.

Imaginando-me no interior
Do barco mágico
Que leva o imagético
Ao poder da viagem.

CIDADE SEM VIDA.

Cidade Sem Vida. (Fábio Terra)

Cidade sem vida, a que eu vivo
Sem graça sem noite, sem atrativos
Sem música, sem alma.

Terra de barões oligofrênicos
Onde os amantes traficam suas amarguras
Durante a noite sem graça.

Sem sexo, sem amor sem religião
Presos em seu rosto sagrado
Em uma caixa de luz insólita.

A fedentina de minha latrina é igual
A do homem sentado no Senado ou da moça mais bonita
Que traz no seu perfume, a mentira.

De uma cidade sem vida, sem graça, sem noite,
Sem atrativos, sem música sem alma,

QUINZE SEGUNDOS DE SUCESSO.

Quinze Segundos De Sucesso. ( Fábio Terra)

Acordo lentamente no dia quente,
Foi-se a manhã chata
Apenas pra os chatos.

Acordo com o carinho de uma brisa,
Que toca minha face áspera,
Como o tempo é, para aqueles
Que buscam o sucesso.

Quinze minutos de fama?
Você quer?
Quinze segundos de paz?

Você trocaria o certo, o correto infeliz
Pelo torto do porto de um cais?
Onde se soltam as amarras
E vai atrás da paz, sem o tempo te perseguir.

Quinze segundos de sucesso o que você pode ter
Mas pra você isso já basta?