Um Segundo Antes de Tocar as Nuvens (Fábio Terra)
I
Sangria desatada, que percorre meu coração preguiça,
Não bate a toa pelo amor sem mácula, vicia,
Na tarde escura para os meus olhos nada mais conta,
Um grito calado por dentro, redemoinho perverso por dentro se inicia.
O que se deve fazer, antes de conseguir o paraíso,
Existe tal condição, talvez em estado letárgico,
Anseia o pulso pela ausência de vida,
Um segundo antes de tocar as nuvens.
O barco que me foi dado no passado,
Lotado de felicidade, hoje me leva daqui,
Até mares mais caudalosos.
Fechos os olhos espero sedento o fim que não vem.
Um último gole junto às ninfas nuas e belas,
Com carinhos relaxantes, coração ofegante,
Num último suspiro de coragem.
Será mais fácil dormir e sonhar pra sempre?
II
Abram-se olhos, luta contra a falta de vontade,
A espada embainhada da vida me espera para a última luta,
Galhofando da minha podre covardia,
Mais um gole, o torpor aumenta.
O odor do fim se prende à minha fraqueza,
Um comprimido leva ao paraíso
Sou forte por tentar, ninguém tenta, a lenta fria pedra,
Alguns conseguem o alento sem volta, junto às sombras
Já fora melhor o mundo, mas isso era a infância,
É inevitável, o coração cansa, quando se cresce,
O Infante dentro de mim grita egoísta e orgulhoso
Alguém lhe deu ouvidos, não, apenas mais uma piada infame.
O som do clarim chega, símbolo das nuvens ecoa,
Hora de partir, mais um gole, quero ser feliz ao menos no final,
Fui envenenado pelas palavras, ah palavras felizes, palavras tristes,
Chega! Meu desiluminado coração misterioso não será de ninguém.
III
A aurora chega, corpo cambaleia, mais um gole,
Não quero suas orações, farto estou,
Contento-me com vossa confiança, pois esta é mais difícil,
Ignaro amigo, foste o poço de minhas lamentações.
Possuí todos os talentos, comigo irão eles,
Fiz mulheres felizes, provoquei inveja aos homens,
Ah! santa inveja que nos mantêm fortes diante daqueles,
Que me observaram durante essa vida sacal.
Cansei, mais um gole, mais ninfas, mais luxúria,
Ah Santa Luxúria, Santo Pecado preciso desses momentos, preciso de agrado.
Já fui a todos os lugares, uma nova viagem me aguarda,
Divertida será? Não terá essa, a volta.
Satã és um embuste com seu tridente,
Onde estás o teu sangue e o fogo,
Se não nas estórias de Carocha,
Jesus sempre foi mais polêmico,
IV
Perdi a carruagem do tempo,
Não tenho mais nada a fazer,
Minha música não toca mais,
Amigos, não os quero agora, saiam e divirtam-se para mim.
Esperem minha derradeira partida,
Não comentem minhas loucuras em vão,
Caretas de plantão fiquem longe do meu panteão,
Nuvens me dêem suas mãos.
Mais um generoso gole, antes de sorrir,
Não vejo flores nem salmos no céu aberto,
Recebido serei? só batendo à porta saberei,
Ao sol das Hespérides.
Exausto estou, como os meus pensamentos,
Anjos têm sexo? Espero que sim,
Que lindas Anjas me levem,
Pelas suas mãos até o fim.
3 comentários:
Poesia muito linda, essa hein?! Complexa, transbordando sentimento. Gostei. Bjíssimo
Hi Pirata!!! que tal mais um trago de run???? ou pode ser cerveja com gelo???
Não esqueça de acrescentar Clarice Lispector nos links dos poetas no seu blog e ouvir Amy Winehouse.
Gostei da idéia do blog, acho q vou fazer um prá mim, assim poderemos trocar figurinhas de palavras.
Grande Abraço!
Fábio, mais uma vez tenho que dizer que gostei mto do seu texto. Belo poema... Fui lendo e construindo todas as imagens em minha mente...Vivi esse segundo antes de tocar as nuvens!!!
Bjks!!!
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